O corredor polonês é um tipo de castigo. Eu nem sei se o nome está correto mas foi assim que eu conheci essa punição, sendo que a conheci pelo pior lado, o do punido. Até porque todo castigo é uma experiência desagradável.
O castigo "corredor polonês" consiste em fazer passar um menino por entre duas fileiras paralelas de outros meninos que devem bater no que passa, sob pena de, não o fazendo, tomar o lugar de quem estava sendo castigado. Ou seja, ou bate em quem está passando ou vai sofrer o mesmo castigo.
O castigo "corredor polonês" consiste em fazer passar um menino por entre duas fileiras paralelas de outros meninos que devem bater no que passa, sob pena de, não o fazendo, tomar o lugar de quem estava sendo castigado. Ou seja, ou bate em quem está passando ou vai sofrer o mesmo castigo.
Era uma forma de o adulto responsável castigar o menino "infrator" sem ter que colocar a sua mão na massa. Concordo que não era uma boa "psicologia" fazer crianças baterem em outras crianças, mas o punido evitaria sempre uma nova falta, disso eu tenho certeza.
Para relevar o peso do que parece ser uma grande crueldade, afirmo que os tapas, chutes e socos dados pelas crianças poderiam ser agrupados sob o designativo de uma brincadeira um pouco violenta, apenas isso. Entre mortos e feridos salvavam-se todos. Grande mesmo era o vexame de quem sofria o castigo. Também, nascia ali uma ou outra "arenga" com o menino que aproveitou para dar um "direto" no seu olho, conta que seria devidamente cobrada posteriormente, longe dos adultos, é claro.
Mundo de criança! Quanta estrepolia, quanta brincadeira, quanta alegria!
Coisas desse gênero ocorriam num "colégio interno" daqueles em que as crianças não saíam nem por férias, natal, aniversário ou qualquer outra data relevante. Mas havia punições mais temidas como era a de o menino ficar vestido de menina por três dias. Isso era vexame total.
Tudo isso ocorreu pelos idos de 1950, época em que era normal bater nas crianças pelas faltas cometidas. Nessa época, réguas, palmatórias e chicotes artesanais equivaliam ao temido chinelo dos dias atuais.
Tudo isso ocorreu pelos idos de 1950, época em que era normal bater nas crianças pelas faltas cometidas. Nessa época, réguas, palmatórias e chicotes artesanais equivaliam ao temido chinelo dos dias atuais.
Como dizem os mineiros das minhas paragens, lá da Zona da Mata, eu tenho histórias para "mais de metro" sobre esses 5 anos vividos no colégio interno. Alegrias, tristezas, aventuras, tudo misturado num mundo de criança.
Vou falar sobre a razão de eu ter ido parar no "Corredor Polonês", por onde tive que passar duas vezes consecutivas:
Eu fui flagrado em pleno ato nefasto, por ter saído do colégio, sem autorização, e por estar colhendo goiabas numa propriedade rural vizinha. É claro que eu colhia os frutos com autorização dos moradores do sítio, mas isso não fazia a menor diferença para efeito das punições que seriam aplicadas.
Eu fui um menino esfomeado que andava sempre à procura de algo para comer, fossem frutas, legumes ou verduras cruas, colhidas na horta. Pomares cheio de frutas me atraíam irresistivelmente. Haja apetite! Nessas buscas gastronômicas, até mandioca crua eu comi e, claro, sofri terríveis consequências digestivas, as quais hoje me autorizam a afirmar com autoridade: Nunca, nunca comam mandioca crua!!!
Bom, então foi isso: Eu fui pego "com a boca na botija".
De volta ao colégio, fui obrigado a levar comigo todos os frutos colhidos, os quais eles já rotulavam de "roubados". Tremenda falta de sorte: Eu havia colhido muita goiaba. Eu havia improvisado uma sacola utilizando a camiseta dentro do calção e fui colocando as goiabas junto ao corpo. Havia muita goiaba no pomar quase abandonado e eu com aquela vontade de colher todas elas.
De volta ao colégio, fui obrigado a levar comigo todos os frutos colhidos, os quais eles já rotulavam de "roubados". Tremenda falta de sorte: Eu havia colhido muita goiaba. Eu havia improvisado uma sacola utilizando a camiseta dentro do calção e fui colocando as goiabas junto ao corpo. Havia muita goiaba no pomar quase abandonado e eu com aquela vontade de colher todas elas.
Reunidos os meninos no pátio aberto, primeiro houve o discurso da moral e dos bons costumes e depois os meninos foram colocados nas duas fileiras paralelas, entre as quais eu devia passar. A primeira passagem foi para que todos atirassem em mim aquelas deliciosas frutas que, por sorte, estavam bem maduras e não tão endurecidas. Essa primeira parte foi fácil, motivo até de algumas risadas dos participantes. A segunda parte foi realizar a mesma travessia agora tendo os meninos a obrigação de me baterem, premidos pela clara advertência de que, não o fazendo, sofreriam o mesmo castigo.
Eram duas fileiras com 30 a 40 meninos cada uma. Como menino briga muito já podia ver alguns desafetos, em ambas as fileiras, os quais estavam liberados para bater como quisessem. Enquanto uns batiam devagar- eram os amigos - outros baixavam a "porrada" como desforra de fatos passados. O recurso de passar correndo estava proibido sob pena de ter que passar novamente pelo agressivo corredor humano.
Eu reconheço que fui moleque, moleque mesmo. Se nunca cultivei a maldade nas minhas ações, isso não me impediu de muitas brigas e desavenças, algumas com resultados adversos devidamente cuidados na enfermaria do colégio, mas tudo sem muita gravidade. Aliás, hoje me parece que brigar em colégio interno é, também, uma forma de diversão.
Se a infância foi bem dura, hoje as lembranças são boas. Até aos adultos que nos batiam, hoje eu dedico reconhecimento e carinho pelo tanto que faziam para nos tornar pessoas de bem, tarefa que devia lhes parecer quase impossível. Também eles não agiam por maldade.
Eu sobrevivi e sobreviveram todos...
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