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Eusébio, Ceará, Brazil
Nasci no ano de 1940 e sou um velho espírita que vive no Brasil.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Minha História - 0 a 7 anos.

Todos tivemos infância e, de uma forma ou de outra, todos brincamos e fizemos "artes" em nosso período infantil. Hoje vou falar da minha infância, vivida nos campos e vales, entre as serras majestosas de Minas Gerais.

Escrevo para mim mesmo, no interesse de reviver aqueles tempos em que a vida corria despreocupada, qual um rio que vai contornando os obstáculos e, calmamente, segue em frente, para o seu objetivo, o oceano.

Na pior das hipóteses, caso ninguém se ocupe em ler, vou escrevendo, fazendo o que gosto, gastando o tempo de velhice que a  a vida me concede.

Então posso dizer: "Sou minerín, uai! Com muito orgúio, Sô!"

Em pleno período da guerra, 1940, nasci em casa, numa "casa de taipa" - habitação rural construída com parede de barro batido, aplicado sobre uma espécie de gradeamento feito com lascas de madeira, varas ou taquara (bambu). Esse tipo de construção é também designado como:  ESTUQUE, TABIQUE ou PAU-A-PIQUE.

Claro que nasci pelas mãos de uma parteira. Todos nasciam assim naqueles rincões mineiros onde um prático de farmácia e algum tratador-benzedor eram as autoridades médicas disponíveis.


O meu choro de recém nascido pode ter sido de alegria, de espanto, de fome, de dor pelo oxigênio queimando os pulmões ou, somente, pela boa palmada aplicada no meu bumbum. Seja como for, foi só a primeira das muitas palmadas que ainda me aguardavam.



Naqueles tempos, moleque travesso não tinha “refresco”, era palmada por todo lado e quase todas muito bem merecidas. Amo a todos aqueles que me deram aquelas palmadas. Eu sei que eram palmadas temperadas com amor, com aquele “toma tento minino! Você tem que crescer um homem de bem!”

Na falta do leite materno que secou rápido, talvez pela parca nutrição materna, sobrevivi pela bondade de uma vizinha de roça que, a cada dia, levava para minha mãe o pouco leite da cabra que possuía.

A família poderia ter sido de sete pessoas, mas duas meninas, minhas irmãs, não resistiram às precárias circunstâncias e à falta de recursos de saúde.  Na minha infância, quando as pessoas falavam de seus filhos logo mencionavam que dois ou três “não haviam vingado”.


Eu vinguei. Vingaram também duas irmãs: a Edir, que vive na bela Cidade de Juiz de Fora e a Eulina, que já nos precedeu nas “moradas” celestes.


Naquele fim de mundo, rural, de princípios do século passado, cabia bem a expressão de Euclides da Cunha em Os Sertões: “O Sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Permanecer vivo já era uma vitória sobre tantos fatores adversos.

Correndo atrás de bola e passarinhos, o tempo passou e eu nem sabia daquelas condições difíceis de vida que só os adultos enfrentavam.

Só percebia que havia muita alegria naquele viver simples e cotidiano. A alegria do trabalho, a alegria da colheita, a alegria da casa nova, de barro ou de tábuas, cheia de frestas, sem esquecer a maior das alegrias: A de crianças crescendo - filhos preciosos para a vivência do amor e para suprir a necessidade de novos braços para a lida das lavouras. Os adultos exibiam seus filhos dizendo: Esse vai ser bom de enxada, esse vai gostar de roçar, esse vai cuidar bem do gado. Quando muito se admitia que um ia ser um bom violeiro ou sanfoneiro.


Mas do que obrigação, era lazer ir à igreja aos domingos e nos dias santificados. Equivalia a uma festa: A melhor roupa, bem passada. O melhor sapato, ou melhor, o único par de sapatos, limpo e bem engraxado. Os homens não se envergonhavam do terno puído ou da roupa remendada mas as mulheres se esmeravam nas saias estampadas, godê, que em casa elas mesas produziam.


O futebol era a paixão dos homens. Se o adversário era de fora, o campo logo se ornava com as muitas cores trazidas pelas moças, em vestidos de festa, ansiosas para ver o desempenho dos atletas - maridos, noivos ou pretendentes - ou mesmo, para fazer vista aos jovens adversários, possíveis pretendentes.


Ninguém se importava com o fato de que o campo de jogo era frequentado, também, pelos animais que ali deixavam os seus dejetos. Era bom driblar o adversário e os montículos para evitar o constrangimento de sair carimbado.

O meu pai, o alemão, era um dos principais na hora de formar o time. Era bom de bola e, como ele, havia outros mais.


A vida seguia tranquila, até onde a pobreza e a saúde não chegavam a atrapalhar.

Aos sete anos ganhei meu primeiro sapato que nem sapato era. Ganhei uma chuteira - um estímulo ao grande craque de bola em que eu deveria me tornar - quis o destino que eu nem ficasse com a chuteira e nem, muito menos, me tornasse o sonhado craque dos sonhos do meu pai.

Foi, nessa época, que a doença separou nossa família. Sem condições de subsistência, eu e minhas duas irmãs fomos entregues ao Educandário Carlos Chagas, em Juiz de Fora, onde deveríamos permanecer, como previsto, até à maioridade. Também essa previsão não se confirmou. Permanecemos ali por, apenas, 5 anos. Depois disso a família se reuniu novamente, agora no Rio de Janeiro.

Depois eu conto como foi viver de 7 a 12 anos nesse colégio interno.






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