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Eusébio, Ceará, Brazil
Nasci no ano de 1940 e sou um velho espírita que vive no Brasil.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Eu Fiz o Caminho de Santiago (2)

Atravessar os Montes Pirineus como primeira etapa do caminho é como iniciar o Caminho com um "teste de fogo". Se você o supera, já se sente capaz de seguir em busca do seu prêmio: O "campo de estrelas".

É um batismo de fogo, mas todos o conseguem. Até eu consegui... 

Galgar os picos dos Pirineus subindo pela França e deles descer na Espanha pode ser uma ideia romântica mas não é uma tarefa fácil. Somente nos primeiros 10 km eu decidi desistir umas 100 vezes. Em cada decisão eu parava, descansava  e, refeito, decidia subir mais um pouco.  Era tanta parada que quando recomeçava a andar já calculava um ponto acima onde parar e descansar, de novo. E o excesso de peso da mochila parecia de uma tonelada.

A coisa começa a melhorar quando, já no alto, surge a visão da cadeia de montanhas,vista por cima, mesclando-se com as nuvens. Uma visão exuberante que já fazia valer o sacrifício de ter chegado até ali. Junto às nuvens, o silêncio se impõe e evoca a fé. Acho que todos os peregrinos fazem ali, mentalmente, uma prece de agradecimento a Deus pelo privilégio de contemplar algo tão belo. Obrigado, Senhor!



Mimi Peregrina - acima das núvens
Aquela sensação de liberdade e o caminhar entre as nuvens se não te descansa, pelo menos te anima a prosseguir. A beleza acalma os pensamentos e evoca o melhor de nós. Ali parece ser o momento adequado para pensar nos familiares e amigos e fazer uma oração por eles.



Quando se avista a linda Cidade Espanhola de Roncesvales é obrigatório fazer uma parada para um lanche antes de completar a descida. Parece que a etapa do dia está vencida e que a Cidade está logo ali, a uns 3 km, te esperando para o merecido descanso e uma boa refeição. Ilusão! Não há retas quando se caminha pelas montanhas. O que estava ali ao alcance da vista torna-se tão distante que parece que o que você viu tão perto era apenas uma miragem. Engana-se quem pensa que descer não é mais fácil do que subir. Foi uma triste constatação. Com o fardo da mochila, botas pesadas e pedras soltas, o desafio passa a ser o de manter-se em pé e não se machucar em quedas.

Só sei que quando chegamos a Roncesvales o cansaço era tanto que eu literalmente desabei num gramado e fiquei ali pensando que não teria forças de me levantar tão cedo. Ali, eu tinha certeza de que não conseguiria andar os 750 km que teria pela frente até Santiago de Campostela.

Eu fiz o Caminho de Santiago e afirmo que, se eu fiz, qualquer um faz!

De cansaço em cansaço, de descanso em descanso, de etapa em etapa, de surpresa em surpresa, de refeição em refeição, de vinho em vinho, de amigos em amigos, de línguas em línguas, lá vai o Peregrino com seus sonhos, com a bravura de um campo de batalha... Nas distâncias e no silêncio, ele organiza os pensamentos e analisa a vida vivida e por viver.

O Caminho que está apenas entrando na sua vida, passa a ser, também, o pano de fundo onde se remonta a sua história e se abrem novos horizontes.

Ali, no Caminho, o peregrino não tem tempo para odiar ninguém, não carrega ressentimentos e nem mágoas. Ali, o peregrino só tem tempo para amar, perdoar e refazer os propósitos de melhor viver e de mais significar para os que o acompanham nessa sua existência.

O Caminho é uma terapia ! O Caminho é inesquecível !


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