Contrariamente ao meu costume, naquele dia saí caminhando rua acima, em plena tarde ensolarada, sem nenhum destino em mente.
Ao passar em frente à casa de um amigo, minha intuição me disse para entrar e falar com ele.
O calor de sua recepção me surpreendeu menos do que as suas primeiras palavras: "Você foi enviado por Deus para vir aqui e falar comigo hoje. Acabei de fazer uma prece pedindo a Deus que me mandasse alguém para falar comigo sobre diversas questões particulares".
Encorajado por suas palavras, relatei que havia saído de casa sem um rumo definido e que, passando na frente da sua casa, senti que devia fazer-lhe uma visita.
Conversando sobre a sua vida, sobre a sua família e sobre o seu emprego, não tardou para que o assunto convergisse para o tema da nova igreja, que ele fundara em companhia de um outro amigo e da qual eram ambos os dirigentes ou "pastores". Empolgado, falou-me das suas vibrantes pregações e da primeira centena de fiéis que a igreja já congregava.
E foi nesse andar da carruagem que ele me falou de um culto que faziam, à noite, no alto da montanha. Disse que era um culto para a “expulsão de demônios”. Contou que lá se manifestavam espíritos das trevas aos quais ele expulsava, determinando que voltassem para o inferno, de onde teriam vindo.
Sentindo que devia dizer alguma coisa, comecei por alertá-lo de que esse tratamento não era o mais adequado para lidar com aqueles irmãos que se achavam perdidos, nas trevas, aos quais nos competia atrair para a Luz, tratando-os com respeito e dignidade e doutrinando-os para abandonarem a prática do mal.
Ele discordou prontamente das minhas palavras e reafirmou que “aqueles demônios” não mereciam qualquer benevolência e que deviam mesmo ir para o seu lugar de origem: ”o quinto dos infernos”.
Em vão, tentei convence-lo de que, para lidar com esse tipo de espíritos, a pessoa precisa estar preparada e contar com efetiva defesa espiritual. De outra forma, poderia atrair para si o foco da maldade que eles se deleitam em praticar.
Disse-lhe que toda abordagem aos espíritos, na prática do Espiritismo, é feita com a tutela de um Mentor Espiritual para isso designado pela Providência Divina.
Mas ele, entre perplexo e confiante, argumentou que expulsava os espíritos malignos em nome de Jesus.
"Até aí tudo bem, disse-lhe, mas e Jesus, Ele está sabendo disso?"
Essas palavras saíram de minha boca sem que eu sequer houvesse pensado em dize-las.
Então, prossegui: Uma coisa é falar em nome de Jesus e outra coisa é merecer que Ele esteja ao seu lado apoiando as suas palavras. Não basta dizer que se faz isso ou aquilo em nome de Jesus, é preciso que a força e o poder do Mestre Jesus estejam ali produzindo os resultados.
O poder de Jesus existe e atua de forma incomensurável. Foi esse poder que secundou as palavras do Apóstolo Pedro ao paralítico, na Porta Formosa do Templo de Jerusalém, quando este lhe pediu uma esmola:
“Eu não tenho ouro e nem prata, mas o que tenho isso lhe dou: Em nome de Jesus, o Nazareno, levanta-te e anda.” Atos 3:6.
Aproveitei para lhe aconselhar que estivesse sempre amparado por Jesus em suas ações e pregações, já que esses espíritos, com os quais se propunha a lidar, poderiam, eventualmente, causar-lhe muitos dissabores, caso lhe faltasse a proteção espiritual adequada.
Meses depois dessa conversa, o meu amigo havia perdido o seu emprego, havia saído do convívio da família, além de haver sido banido da igreja que recém ajudara a fundar.
Sem casa, sem família e sem o crédito social que a igreja lhe assegurava, passou a viver em situação bastante precária.
Não quero julgar se se configurou o pior quadro na hipótese acima admitida, até porque nenhum de nós é perfeito e a ninguém nos compete julgar, mas é aconselhável que só lidem com os espíritos aqueles que estiverem preparados para isso, sobretudo no que respeita às defesas espirituais.
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