Foi tudo tão inesperado que nem anotei nomes das localidades e nem mesmo o nome do Santo que, agora, já nem me lembro, por não ser um Santo consagrado pela igreja. Chamá-lo de santo é uma reverência à sua vida, talvez.
Não sou fanático religioso mas aprecio toda a manifestação de fé.
Sempre que viajo procuro visitar os lugares sagrados das religiões, desde grandes catedrais e monumentos da época áurea do catolicismo até aos locais mais humildes como uma capela sobre a montanha ou uma fonte em cuja água se acredita depositado um poder curativo. Digo mesmo que Capelinhas no campo ou nas montanhas me atraem mais que igrejas suntuosas, muitas das quais hoje mais atestam a falta de fé atual, pelo vazio e abandono que demonstram e pelo escuro-fúnebre de seus interiores, onde a poeira e o mofo dificultam até mesmo o respirar ali.
Me encantam lugares consagrados pela fé, principalmente, os menos frequentados por turistas por se encontrarem em lugares mais distantes e ermos onde só mesmo a fé conta como significativo.
E foi assim que eu fui parar na "Cova do Santo", uma gruta perto da Cidade de San Cristóbal-ES, onde dormimos eu, minha mulher, o Erisvaldo Paulino, que vinha caminhando desde Roma e um Francês que morava em Manjarín, o qual nos servia de guia.
Na "Cova" não havia ali nenhum abrigo que não fosse o próprio espaço interno daquela gruta no alto da montanha. Chegamos à noite e nos instalamos para dormir à luz das pequenas lanternas que todo peregrino carrega.
Nunca senti um cansaço tão grande em minha vida. Também não foi previdente ali chegarmos praticamente sem alimentos disponíveis para uma boa refeição. A água era farta nas correntes geladinhas que desciam do alto da montanha. Naquela temperatura nem preciso dizer que o meio-banho foi rápido e apenas o necessário.
Para visitar esse local místico nos desviamos do roteiro habitual do Caminho de Santiago, logo após deixarmos o Albergue do Thomaz, em Manjarín. Gastamos uma dia de caminhada na ida e outro dia na volta ao Caminho normal, já na Cidade de Ponferrada, o próximo albergue.
Grande parte do trajeto para alcançar a "Cova do Santo" foi feito sobre as montanhas e, apesar da dificuldade em alguns trechos, valeu a pena caminhar pelo Vale do Silêncio onde se podia ouvir o voar de um pássaro ou o zumbido de um pequeno inseto, além do barulho de nossa própria respiração. Caminhávamos em silêncio apreciando a beleza que nos cercava, enquanto acalmávamos a mente e os pensamentos.
Dormir sobre a laje de pedra, naquele clima bastante frio não foi nada confortável, mas encantou pela aventura, pelo inusitado e, sobretudo, pela experiência mística envolvida. Não faltaram os sonhos especiais e nem as pequenas visões que vieram povoar a nossa noite. O certo é que, pela manhã, cada um tinha algo para contar...
Teriam sido apenas sugestões?
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