As religiões nos oferecem verdades, lendas, mitos, dogmas e "Artigos de Fé", quase tudo excluído do debate e da possível e honesta contestação. Difícil seria a tarefa de encontrar, em apenas uma delas, toda o conhecimento em torno de Deus.
"A VIAGEM DE THEO" é o título de um livro de autoria de Catherine Clément, que narra a hipotética história de um adolescente enfermo, desenganado pela medicina, ao qual uma tia oferece uma viagem ao redor do mundo, como último presente ao sobrinho e numa tentativa derradeira de encontrar a cura nos rincões da espiritualidade. Nesse mister, percorrem os lugares sagrados de cada religião e convivem com as pessoas representativas de cada um desses segmentos de manifestação da fé.
Essa busca da ajuda divina através das crenças humanas - religiões, seitas, rituais e misticismo - representa, também, a busca transcendental do divino incutido em todas as almas e de cujas noções o homem intui um destino superior e imediato à vida física.
O livro aborda as religiões pelo lado da fé de seus adeptos e das esperanças que infundem, presente a questão da doença fatal que é pano de fundo da narrativa. É uma peregrinação aos lugares sagrados que enseja ao leitor a visão panorâmica das religiões desde o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo até às crenças dos povos tribais da África e do nosso Continente, sem esquecer o sincretismo havido entre algumas delas.
Essa obra literária traz informação e conhecimento, ainda que rudimentares, de todas as religiões adotadas pelo ser humano.
Como Espírita, ressenti da ausência de um melhor enfoque do Espiritismo, suas origens e conteúdo, nele minimamente enfocados, quiçá por barreiras subjetivas da própria autora.
Citei, inicialmente, esse livro, apenas para chegar ao que queria escrever hoje: A minha própria e pequena viagem pelas religiões até aportar na Doutrina Espírita.
Geralmente, todos nascemos vinculados a uma religião. Pequenos vínculos já se formam pelo casamento religioso dos pais e pelo batismo dos filhos, ainda que as pessoas não cultivem a assiduidade aos respectivos templos.
Eu nasci de fervorosos pais evangélicos, membros da Igreja Presbiteriana do Brasil à qual fiquei então vinculado. Cresci ao som dos hinos e dormi embalado pelos sermões domingueiros, naqueles rincões de Minas Gerais.
Com sete anos de idade conheci da Igreja Católica, religião adotada no colégio interno para onde me levou a necessidade de viver e de estudar. Batizado e crismado, conheci sobre alguns santos e santas do Cristianismo. Como criança, dos mais bonitos eu gostava e dos mais feios eu tinha medo. Rezei terços pelos meus "muitos pecados" e acompanhei novenas em prol das almas que penavam no purgatório, pagando os pecados delas.
Aos doze anos retornei ao convívio dos meus pais e da igreja evangélica. Agora no Rio de Janeiro, na Igreja Presbiteriana do Bairro do Caju. Nessa época, conheci o Pastor Dr. Bolivar Bandeira e sua família, pessoas maravilhosas que marcaram a minha juventude. Recordo-me, rapaz, como companhia solitária do saudoso Dr. Bolivar nos trabalhos domingueiros, nos hospitais e sanatórios do Caju, nos quais era Capelão dativo.
Minha chegada ao Espiritismo foi precedida por pesadas tormentas, no plano subjetivo. Na mente rugiam forte os ensinamentos contrários que, exatamente, condenavam o Espiritismo como "artimanhas de satanás". Foi difícil, muita culpa rolou até à libertação daqueles ensinamentos trazidos desde o berço.
Ajudou-me, nessa transição, o inquietamento que sempre nutri em face dos dogmas e artigos de fé das religiões, alguns dos quais, secretamente, nunca aceitei e outros que, levados à discussão familiar, rendiam-me censuras veementes, acrescidas e adornadas com as chamas ameaçadoras do "inferno".
No entanto, venceu a busca do saber e do entendimento. Venceu a liberdade de existir e pensar. Venceu o livre arbítrio utilizado na busca da verdade, da lógica e da razão.
Apesar da expressiva idade, agora sou mais um aprendiz do Espiritismo. Chequei ao porto onde a crença resulta da fé que caminha ao lado da ciência e de todo o conhecimento humano.
É confortante saber da abertura doutrinária do Espiritismo, pronto a remover os conhecimentos que, em futuro, possam vir a ser comprovados como equívocos, à luz da lógica e da razão. Não há verdades incontestes e nem impostas sem o devido entendimento.
A ética espírita assim se expressa desde a codificação procedida por Allan Kardec:
"É melhor rejeitar 99 verdades não comprovadas do que admitir uma só mentira"
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